Greve geral argentina envolve sociedade civil e atinge vários setores

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Foto: EPA/David Fernandez

Em reação à política econômica adotada pelo governo argentino, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) anunciou parar o país nesta segunda-feira (25/6).  É a terceira greve geral em dois anos e meio da gestão do presidente Mauricio Macri.

A paralisação atinge o transporte público, os postos de gasolina e os bancos. Movimentos sociais de esquerda cortarão as principais vias de acesso à capital, Buenos Aires. Nesta terça (26), os argentinos enfrentam outro desafio: derrotar a seleção da Nigéria, no jogo na Rússia. Sem essa vitória, o país ficará fora da Copa do Mundo de Futebol.

A greve também afeta os voos que deveriam vir da Argentina para o Brasil e os que decolariam daqui para lá. Há voos cancelados em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Curitiba, Porto Alegre e Brasília. A Latam e a Gol cancelaram todos os seus voos para o país vizinho. Uma das viagens que teria início em Brasília com destino a Buenos Aires pela Latam foi cancelaa nesta manhã.

Às vésperas das paritárias – negociações entre sindicatos e empresários – as centrais sindicais tomam a paralisação como demonstração de força. Paralelamente, ela ocorre cinco dias após o primeiro desembolso dos US$ 50 bilhões que o Fundo Monetário Internacional (FMI) colocou à disposição do governo argentino.

A medida vale pelos próximos 36 meses e tem o objetivo de ajudar o país a superar a crise cambial e colocar as contas em ordem. Em troca do empréstimo, o governo se comprometeu a reduzir os gastos públicos e a inflação, prevista para chegar, este ano, a quase 30%.

Centrais sindicais prometem uma paralisação de 24 horas, que ganhou o nome de reação ao “brutal ajuste econômico” imposto pelo FMI.  Para alguns setores da economia, o momento atual é comparado à crise de 2001, apontada como a pior da história recente da Argentina.

Reivindicações
Os diferentes sindicatos têm pauta comum: reajuste de salários para combater a elevação do custo de vida, que em 2017 chegou a 25%. Também reivindicam garantias para evitar demissões.

Por sua vez, o governo anunciou a intenção em reduzir o tamanho do estado e o programa de obras públicas – esperado para reativar a economia e gerar empregos. O crescimento econômico será menor, segundo o ministro da Fazenda, Nicolas Dujovne, e a inflação será maior do que o esperado. Segundo ele, o acordo com o FMI impediu o agravamento da crise.

Desde dezembro, o peso argentino perdeu metade de seu valor. Segundo o presidente do Banco Central no país, Luis Caputo, a desvalorização terá um custo no curto prazo.  “Aconteceu o melhor”, resumiu Caputo, informando que a medida obrigou a Argentina a buscar o apoio do FMI e estabilizar a economia.

Pressão
De acordo com o ministro do Trabalho, Jorge Triaca, a greve geral “não vai resolver os problemas dos argentinos, não serve para coisa alguma”. O objetivo da gestão Macri é manter o diálogo com as centrais sindicais, afirma Triaca. O sindicato dos caminhoneiros ameaçou parar o país e voltou atrás, após conseguir aumento de 25%. Mas outras categorias não obtiveram o mesmo.

A Igreja Católica também divulgou um documento, apelando ao governo para não adotar políticas de ajuste que aumentem a desigualdade. Em nome do papa Francisco, argentino, religiosos apelaram para o interesse social se sobrepor ao econômico.

O atual programa vai garantir a manutenção dos programas sociais, para proteger os “mais vulneráveis”, ressaltam o governo e o próprio FMI.

Fonte: Metrópoles